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Síndrome de Gerontofobia, o que é isso?

Neste artigo iremos refletir sobre alguns aspectos e características da Síndrome de Gerontofobia, muito comentada na mídia sob a terminologia do “rejuvenescimento”, a fim de conhecermos os sintomas, e suas causas patológicas, que tanto impactam a vida do indivíduo..

Nada melhor, para iniciar a reflexão, que saber o significado das palavras, e ao pesquisar no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, na versão On Line, significa “conjunto de sintomas que caracterizam determinada condição ou situação”.

Já a palavra Gerontofobia (geronto + fobia) significa “aversão a”, ou medo patológico de pessoas idosas ou do processo de envelhecimento.

Patologia “parte da medicina que estuda as doenças ou desvio em relação ao que é considerado normal do ponto de vista fisiológico e anatômico e que constitui, ou caracteriza, uma doença”.

O interessante é não encontrar os sintomas dessa Síndrome nos livros de classificação de doenças e nem como surgiu, sendo apenas relacionada nos artigos ou entrevistas, que abordam o tema envelhecimento, como algo ou coisa temerosa, e não como uma fase da vida, a ser encarada naturalmente.

E a pergunta é: se o indivíduo tem condições de amenizar ou retardar algo que o aflige, por que não tentar?

A impressão que temos, ao ler reportagens ou artigos sobre pessoas, famosas ou não, que imaginam “driblar” a velhice fazendo plásticas, para disfarçar ou corrigir algo que não satisfaz, é que esta atitude não é bem aceita.
Existe uma crítica não dita relativa a estes comportamentos que devem ser examinados na perspectiva da sociedade atual.
Segundo Gaeta (2005, p. 40): 

“[…] temos medo de envelhecer, em primeiro lugar, porque a partir daí a vida termina. Ponto Final. E temos medo de envelhecer porque não teremos mais espaços sociais de
reconhecimento e de sobrevivência.

Haja estímulo ideológico a plásticas, ginásticas, cosméticos, etc.”

O medo talvez não seja da velhice e das imperfeições, mas o de acreditar que não será mais desejado, como ouço diariamente nos atendimentos de pessoas jovens, que ainda estão longe da idade considerada pessoa idosa (a partir de 60 anos) ou ainda de pessoas adultas.

Como mudar esse pensamento?

Quem gostaria de pensar seu futuro no espelho que projeta seu corpo flácido, cabelos com cores indesejadas ou até a falta de dentes?

Existe preparo para aceitar, naturalmente, a mudança brusca dos corpos, e realçar que o indivíduo é mais que um corpo perfeito e bonito?

Como agir face ao sofrimento interno e o enfrentamento solitário da pressão social na valorização da juventude?

Featherstone (1998), citado por Gaeta (2005), afirma:
“Pode-se argumentar que nas sociedades ocidentais contemporâneas, esse processo é exacerbado pela forte ênfase na aparência física na imagem visual que é um dos elementos fundamentais que impulsiona a cultura de consumo.

Nenhuma outra sociedade na história, como é frequentemente dito, produziu e disseminou tal volume de imagens do corpo humano através dos jornais, revistas, dos anúncios e das imagens do corpo em movimento na televisão e nos filmes.

A paisagem física das grandes cidades, das construções e lugares nos quais fazemos compras ou nos divertimos estão cheias de imagens e réplicas do corpo humanos, e a vasta maioria dessas imagens, especialmente aquelas usadas para vender mercadorias e experiências por meio de anúncios, são imagens da juventude, saúde e beleza dos corpos.

Uma boa parte da promoção da moda, indústria de cosméticos e de cuidado com o corpo apresenta esses ideais de corpos como algo que deveria ser atingido.

A transformação do corpo, que levará a uma transformação pessoal, é algo que está ao alcance de todos nós.

A mensagem divulgada é simples. Se você parece bem, você se sente bem. (2005, p. 61)”

Conforme as dores do corpo, dificuldades de locomoção se aproximando e em alguns casos chegando a prejudicar na vida cotidiana e trabalho, essas queixas reais, abandona as possibilidades e alternativas possíveis e a busca de opções para facilitar sua vida, ou intervenções para ajudar o fortalecimento do corpo, optando pelo isolamento, resistência de usar tecnologias para preservar sua autonomia, acreditando que a velhice é imperfeição e assim desenvolve a baixa autoestima e a dificuldade de aceitar o envelhecimento como mais uma fase da vida.

Constato em alguns casos a falta de aceitação perante a condição social e da fase de vida, lembrando somente de sofrimentos e perdas. Sobre isto Neri (2006, p 80), escreve:

“Ganha importância ao ressaltar que é significativo o número de idosos que, por desvantagens em estágios anteriores da vida, não desenvolvem as condições para a continuidade. Essas desvantagens são, entre outras, baixo nível educacional, baixa renda, poucas relações sociais, alta mobilidade geográfica, levando o idoso à descontinuidade e a enfrentar, de maneira negativa, o envelhecimento.”

Existem casos que a falta de energia da pessoa idosa é grande, levando a se isolar, sem prazer em realizar atividades que gostava ou, simplesmente, sem energia para resolver problemas e assuntos corriqueiros.

Noutros casos, a educação foi rígida. Pessoas passivas aos acontecimentos, se comportam de acordo com as expectativas alheias, resultando na crença de não ter direito de realizar seus próprios desejos.

A este respeito, Trentin & Silva, assinalam que:

A vida das pessoas está mesclada por situações adversas e situações favoráveis. A maioria delas interioriza, com mais facilidade, as situações adversas do que as favoráveis, e o fazem de tal maneira que as consequências se prolongam pelo resto da vida. As situações adversas, quando não enfrentadas adequadamente, podem levar à ansiedade e à depressão que, na maioria das vezes, atuam como “trampolim” para o desencadeamento de doenças, incluídas aquelas do tipo crônico-degenerativas, que podem se constituir em fontes de estresse. (2005, p. 01)’

Algumas pessoas idosas denotam muita mágoa em não realizar seus desejos e, desse modo, se privam de ser o que gostariam, ou fazer o que sonhavam, pois acreditam que seu tempo já passou e não volta atrás.

Escuto algumas vezes as frases “não fica bem uma velha(o) fazer alguns tipos de coisas como, por exemplo, namorar, se divertir, etc., elaboração enraizada em crenças e valores discrepantes sobre o envelhecer. 

Nessa fase, as perdas, naturais a esse processo parecem ser acentuadas na sua concepção, e reforçam as demais alterações ocorridas ao longo de sua vida, paralisando-a e deixando-a obstinada por um período já vivenciado.

Outro contexto que a sociedade valoriza é a do indivíduo ágil, trabalhando e consumindo, resultando na hostilização de pessoas envelhecentes que, em determinado momento, não
consumirão, o que se mostra um engano, pois a pessoa idosa continua a participar do mercado de consumo, talvez mudando a direção dos gastos.

Indagamos, como resolver as questões que envolvem a saída do mercado de trabalho, a redução dos ganhos, e o aumento de gastos, especialmente, com a medicação contínua?

O que seria então a Gerontofobia, neste contexto?

Gaeta afirma que “na verdade, temos uma gerontofobia, pelo menos aqui no mundo capitalista – inclua-se o Japão, apesar de toda sua cultura de respeito aos idosos – é o medo e a negação do envelhecer que impera” (p. 40, 2005).

Ressaltamos a importância do trabalho quanto à identidade pessoal e devido algumas doenças resultam no afastamento do trabalho e muitos casos a ociosidade não é bem aceita, gerando preconceito à sua própria condição de “inativa(o)”.

Considerações

Apesar de poucos artigos científicos abordarem o tema gerontofobia, esta breve reflexão tentou associar algumas indagações exemplificando por meio da narração de comportamentos, queixas e angústias, no qual recusa a própria condição, mas para o qual ainda não temos respostas.

Um entendimento mais adequado, resultando em planejamentos e ações amplas de conscientização social, talvez seja uma estratégia para o enfrentamento e aceitação de todas as fases da vida, inclusive no envelhecer com dignidade e respeito para com os idosos.

Se gerontofobia é o medo de envelhecer, podemos associá-lo a insegurança relativa à assistência e apoio familiares e sociais, resultando num temor do futuro, especialmente, se comparado a pessoas ao seu redor que tenham dificuldades para estes enfrentamentos.

Se considerada uma Síndrome, podemos pensar em tratamento, sugerindo que deva ser iniciado pela assertividade das políticas públicas, com serviços de qualidade voltados às pessoas idosas, não contaminando a sociedade com hostilidade que pode fazer com que acreditem não serem dignas de receber qualquer assistência.

Concordo com Trentin & Silva (2005), com relação à facilidade de introjetar situações adversas mais do que as situações favoráveis, uma das orientações a ser dada desde a infância, na valorização e respeito a todas as fases da vida.

Esta talvez fosse a estratégia mais segura contra o medo de envelhecer – a gerontofobia.

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